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Crítica | Brijean: “Feelings”

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Cantora, compositora e percussionista, Brijean Murphy passou grande parte da última década colaborando com alguns dos nomes mais interessantes da cena norte-americana. Do pop tropical que marca as criações de Toro Y Moi e Poolside ao completo experimentalismo de U.S. Girls, sobram registros que contaram com a interferência criativa da artista que cresceu em uma casa fortemente influenciada pelo jazz latino e a música negra. Não por caso, a musicista que hoje reside na região de Oakland, Califórnia, utilizou desses mesmos elementos como estímulo para a produção do primeiro álbum em carreira solo, o ensolarado Feelings (2021, Ghostly International).

Sequência ao material entregue no introdutório Walkie Talkie (2019), EP de oito faixas em que parecia testar os próprios limites dentro de estúdio, o novo álbum estabelece na construção das batidas e uso sofisticado dos arranjos como estímulo para a formação de uma obra que parece própria de Murphy. Mais uma vez acompanhada do multi-instrumentista e produtor Doug Stuart, a artista se concentra na entrega de um trabalho essencialmente amplo, ainda que conciso, efeito direto do uso calculado das batidas e melodias psicodélicas que servem de conexão entre as faixas.

É como se cada composição servisse de passagem para a música seguinte, conceito que embala a experiência do ouvinte até a derradeira Moody. Da mesma forma que em Walkie Talkie, Murphy e Stuart partem sempre de uma base reducionista, mas que ganha novos contornos a medida em que o trabalho avança. São camadas de sintetizadores, a linha de baixo sempre destacada e retalhos percussivos que dão maior profundidade à obra. Instantes em que a dupla norte-americana vai da bossa nova de Astrud Gilberto aos temas jazzísticos de Herbie Hancock de forma atualizada, raspando de leve na produção eletrônica de nomes como Channel Tres e Lindstrøm.

Exemplo disso acontece na faixa-título da obra. Guiada pela força das batidas de Murphy, a canção que emana brasilidade e parece saída de algum disco de Marcos Valle ganha novos contornos a cada movimento. Entre vozes carregadas de efeitos e sintetizadores, o duo estadunidense vai do clima litorâneo da balearic beat às pistas de forma sempre imprevisível, efeito direto da criativa colagem de referências que parecem borbulhar na cabeça do ouvinte. Pouco menos de quatro minutos em que os dois artistas potencializam tudo aquilo que tem sido incorporado desde a introdutória Day Dreaming.

Esse mesmo tratamento detalhista acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. São canções como Lathered In Gold, Paradise e Ocean em que a dupla se distancia do uso de temas dançantes, porém, investe na formação de texturas eletrônicas e melodias enevoadas que parecem cercar o ouvinte. Um lento desvendar de cada componente, cuidado que potencializa os sentimentos expressos por Murphy em parte expressiva das canções. Mesmo faixas como as curtinhas Chester e Pepe evidenciam o comprometimento da cantora e seu parceiro durante toda a execução do álbum, proposta que naturalmente força uma audição atenta por parte do ouvinte.

Tamanho comprometimento garante ao público uma obra essencialmente mágica. São canções marcadas pelo caráter escapista dos elementos, como se Murphy e Stuart transportassem o ouvinte para um ambiente à beira-mar, porém, completas pela força dos sentimentos e vivências sutilmente incorporadas pela artista. “Sim, eu tenho alguns sentimentos / Tomando tempo para encontrar o que parece certo / Você continua fazendo o que está fazendo / As sensações em meu corpo são leves“, detalha na própria faixa-título do álbum. Um delicado exercício criativo que reflete o esmero e sensibilidade da dupla estadunidense mesmo nos momentos menos expressivos do trabalho.

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